quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Obesidade já custa US$ 2 trilhões ao mundo, aponta consultoria: Segundo estudo, impacto econômico de quilos extras já se equipara aos de guerras e do fumo

OMS atribui 2,8 milhões de mortes por ano ao excesso de peso; países precisam coordenar ações, dizem analistas

DO "FINANCIAL TIMES"
A gordura virou questão econômica. Com quase um terço da população mundial sofrendo de sobrepeso ou de obesidade, o custo imposto pelos quilos extras já rivaliza com o de conflitos armados e o do fumo, indica pesquisa da consultoria McKinsey.
O desgaste que isso traz aos orçamentos de saúde deve crescer porque, a menos que as tendências atuais sejam revertidas, metade da população adulta mundial sofrerá de excesso de peso em 2015.
Em um relatório de 150 páginas publicado neste mês, a consultoria estima o custo mundial da obesidade em US$ 2 trilhões --ou 2,8% de tudo que a economia global produz.
A estimativa se baseia em perda de produtividade econômica, custos para os sistemas de saúde e investimentos necessários para mitigar o impacto da obesidade. O custo que conflitos armados, guerras e terrorismo impõem à economia mundial é de US$ 2,1 trilhões, e fica próximo do provocado pelo fumo.
Richard Dobbs, o principal autor do relatório, disse que "a obesidade é agora uma questão mundial crucial, requerendo uma estratégia abrangente de intervenção implementada em larga escala. Qualquer ação isolada provavelmente teria impacto pequeno".
Nos últimos dez anos, o problema da obesidade se espalhou das economias avançadas para países menos prósperos. Cerca de 2,1 bilhões de pessoas são obesas ou têm excesso de peso hoje --número 250% mais alto do que o de subnutridos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreveu a obesidade como epidemia conectada a diversas doenças não transmissíveis, entre as quais diabetes tipo 2, câncer e doenças cardíacas.
Ela atribui 2,8 milhões de mortes anuais ao peso excessivo do corpo e, alguns meses atrás, reduziu sua recomendação quanto à proporção de açúcar na dieta dos adultos de 10% das calorias diárias para uma proporção de 5%.
COMBATE
O relatório da McKinsey estudou 74 medidas que estão sendo tomadas para combater a obesidade, das quais extraiu recomendações para o Reino Unido, onde 37% da população registra excesso de peso e 25%, obesidade.
A Public Health England, parte do departamento de saúde britânico, estimou que, se a obesidade fosse reduzida ao patamar de 1993, o Serviço Nacional de Saúde economizaria 1,2 bilhão de libras ao ano, a partir de 2034.
As recomendações da McKinsey incluem porções menores de fast food; reformulação dos alimentos processados; mudanças nas promoções de comida e bebida; investimento na educação de pais; adoção de refeições saudáveis nas escolas e locais de trabalho; e inclusão de mais exercícios no calendário de atividades das escolas.
Alison Tedstone, nutricionista chefe da Public Health England, disse que "o relatório é uma contribuição útil para o debate sobre a obesidade. A PHE vem declarando constantemente que mensagens educativas simplesmente não bastam para resolver o problema da obesidade".
"O excesso de peso e a obesidade são um problema complexo que requer ação em níveis individual e social, envolvendo indústria, governos locais e nacionais e a sociedade civil. Não há uma solução única e simples", disse. Folha, 27.11.2014.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Cartel é prejudicial à saúde

O uso de cooperativas para disfarçar a organização de cartéis de médicos especialistas eleva os custos do SUS e dos convênios

O uso de cooperativas como disfarce para a organização de cartéis de médicos especialistas tem elevado os custos do SUS (Sistema Único de Saúde) e dos convênios médicos.
São muitas as vantagens do cooperativismo, mas elas degeneram em malefícios sociais quando a função principal dessas organizações for a de aglutinar médicos atuantes em certas regiões para impor honorários ou condições comerciais.
Nesse caso há uma transfiguração: cooperativas viram cartéis, tornando os serviços mais caros, escassos e de menor qualidade.
Alega-se que a criação de cartéis de médicos especialistas seria boa para compensar o poder de mercado das operadoras de saúde. Não é o caso. O grupo que tradicionalmente contrata médicos é amplo e desconcentrado: em setembro de 2014, 1.437 operadoras privadas --das quais 102 com mais de 100 mil beneficiários-- e o SUS precisaram de médicos para honrar suas obrigações contratuais ou constitucionais.
Dada a conhecida escassez de médicos no país, o que existe é uma fragilização da negociação daqueles que demandam o serviço.
Recomendar redução na concorrência para tratar eventuais abusos competitivos é uma solução pouco racional, especialmente porque as dosagens e seus efeitos colaterais são pouco estudadas. Decisões recentes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) confirmam a rejeição do argumento do poder compensatório na defesa de conluios médicos.
Planos mais caros induzem uma redução de demanda pelos beneficiários mais jovens, saudáveis ou de menor renda. Sobrecarrega-se ainda mais o SUS e, no segmento privado, deteriora-se o perfil de risco da carteira e os custos das apólices, com pressão para novos reajustes nas mensalidades.
A maioria das cooperativas de especialidades condenadas por prática de cartel pelo Cade se localiza em capitais e no Distrito Federal. A elevação artificial dos honorários em poucas regiões desestimula o deslocamento de médicos a regiões menos densamente povoadas do país. Sob a sombra cooperativa, a oferta de especialistas pode se concentrar nos grandes centros urbanos sem forçar a queda de honorários.
Por mais polêmico que seja, ninguém discordaria do objetivo do programa Mais Médicos de assegurar uma oferta adequada de profissionais nas diferentes regiões. No entanto, um dos efeitos dos cartéis de especialidades é concentrar geograficamente a atuação dos especialistas, deixando as áreas recônditas carentes de médicos.
É difícil imaginar uma profissão mais nobre e importante para o bem-estar das pessoas do que a do médico. Nada mais justo do que reivindicar honorários e condições adequadas de trabalho.
É igualmente oportuno difundir a cultura da concorrência entre a classe médica. Isso, porém, não deve ser feito mediante a prática ilegal de cartéis, que beneficia algumas especialidades em detrimento do conjunto da sociedade.
O cartel é prejudicial à saúde.